BICA
OCUPAÇÃO WR#2
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> Marcos Pavão
Fui chamado de pardal, por um velho curador. Ele achava que meu nome era Marcos Pardal, por eu parecer quieto eu acho, ficou surpreso de saber que meu sobrenome é Pavão na verdade. Não combinava. Penso na presença que meu nome evoca, o que tenho que mostrar para incorporar um pássaro. Para além dele não me conhecer muito bem, fico imaginando as razões pra ele pensar que pardal seria um nome que encaixaria melhor comigo. O pardal é pequeno e marrom, comum, ordinário; muito diferente da excepcionalidade altiva azul pavoniana, do pavão macho. Pardal é tão vulgar que é nome de câmera de trânsito. Mas o pardal canta, o pavão dá uns gemidos feios. Lembro de uma música da Roberta Miranda, que meu avô sempre ouvia na Rádio Nacional: “em minha volta, sinfonia de pardais cantando para a majestade, o sabiá”, imagino toda essa corte sonora, que um pavão jamais conseguiria fazer parte. O pardal é o pássaro mais comum do mundo: só não tem pardal na Antártida; sobrevive, se adapta. É bicho símbolo, tá em todo lugar, dá em todo lugar: tá por aí. Meu nome ainda é pavão, mas gosto de ser pardal. Eu ouvia pardais na casa em que morava, ouço agora no apartamento no centro. Eu incorporo o pardal todo dia.