BICA
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Nunca senti saudades do mar
> simon fernandes
Uma praia horrível
São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2020, 18:43, recebo uma entrega – o almoço. A sacola branca, fina e reflexiva, pende instável nas mãos do entregador: parece que o peso da comida vai rasgá-la, mas ela resiste. Muito isopor, como sempre, sacolinhas, polímeros “all around”, os invólucros sintéticos estão quentes. Uma embalagem específica de isopor branco em formato de cone seccionado antes do ápice, com 15cm de altura, 8cm de diâmetro no topo e 4,5 cm de diâmetro na base, me chama a atenção. Ela tem um peso interessante, contém um líquido que responde aos movimentos da minha mão de forma imprevisível, deslocando constantemente o centro de gravidade do objeto. Meu sol em capricórnio avisa ao ascendente em peixes para ter cuidado no manuseio, o segredo é leveza e precisão. Aperto o meio do cone e sua boca se torna ovalada, o que facilita a retirada da tampa, mas o líquido sobe demais e derramo molho por toda mesa. O molho é escuro, suponho que a base de shoyu, com cebolinha picada e certamente algumas outras coisinhas, não sou muito bom em detectar elementos culinários. Mesmo com meu espectro olfativo extremamente limitado, sinto um ar salgado tomar conta do microambiente em que estou. Não há o que fazer, o líquido preto está por toda mesa, cobriu partes da sacola plástica e criou pequenas lagoas que revelam todo um lindo sistema de saliências e reentrâncias geográficas. Na mão esquerda seguro a tampa da embalagem e vejo um grafismo no formato de sol desenhado em alto relevo em sua face superior. A praia estava ali.
São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2020, 18:43, recebo uma entrega – o almoço. A sacola branca, fina e reflexiva, pende instável nas mãos do entregador: parece que o peso da comida vai rasgá-la, mas ela resiste. Muito isopor, como sempre, sacolinhas, polímeros “all around”, os invólucros sintéticos estão quentes. Uma embalagem específica de isopor branco em formato de cone seccionado antes do ápice, com 15cm de altura, 8cm de diâmetro no topo e 4,5 cm de diâmetro na base, me chama a atenção. Ela tem um peso interessante, contém um líquido que responde aos movimentos da minha mão de forma imprevisível, deslocando constantemente o centro de gravidade do objeto. Meu sol em capricórnio avisa ao ascendente em peixes para ter cuidado no manuseio, o segredo é leveza e precisão. Aperto o meio do cone e sua boca se torna ovalada, o que facilita a retirada da tampa, mas o líquido sobe demais e derramo molho por toda mesa. O molho é escuro, suponho que a base de shoyu, com cebolinha picada e certamente algumas outras coisinhas, não sou muito bom em detectar elementos culinários. Mesmo com meu espectro olfativo extremamente limitado, sinto um ar salgado tomar conta do microambiente em que estou. Não há o que fazer, o líquido preto está por toda mesa, cobriu partes da sacola plástica e criou pequenas lagoas que revelam todo um lindo sistema de saliências e reentrâncias geográficas. Na mão esquerda seguro a tampa da embalagem e vejo um grafismo no formato de sol desenhado em alto relevo em sua face superior. A praia estava ali.