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filme [infra-vermelho]
para Claudia Andujar
> marina guzzo
Vídeo performance para o poema de Antonio Martinelli, Claudia Andujar, e o Urucum.
[filme infra-vermelho]
para Claudia Andujar
diante da magnitude de Urihi-a
- terra-floresta Yanomami -
[como um criança
paralisada diante de um jaguar
sem ação ou medo
diante de estupenda beleza] daquela
floresta magenta
gigantemente impressa
- 12,1 x 8,1m -
e guardada em papel
fotográfico
- impressão sobre filme de base de polipropileno ABL 145 -
e frente a todo poder,
toda fragilidade
daquela imagem:
eu chorei, e chorei pelo nariz,
sibilante em bronquite,
um choro agudo - em vão
livre -
que não era
medo, mas espanto,
uma floresta de afetos
bombeou
meu sangue e,
para não me entregar
a um infarto,
meu pulmão
agradeceu todo aquele ar
[e pouco me importou
o público ao meu lado
e seus olhares,
eu somente busquei o belo],
e, diante da grandeza
da ideia de: árvores, pássaros, curumins, aldeia, formigas, bichos,
eu percorri artérias
nas matas daquela floresta
de sangue vivo: morto,
olhando o reflexo das árvores
vermelhas
no vidro temperado,
do chão de vidros,
e na água da piscina
poliesportiva, abaixo de mim,
eu naveguei distante,
por rios capilares, amazonicos,
[logo eu, que ainda nem conhecia o Ó Serdespanto],
meu coração,
sangrou diante do átrio
do prédio de concreto e vidro
e da representação da natureza
[aorta]
como obra de arte,
[ali, em meio a multidão
majoritariamente branca
eu, descendente de
indo-europeus,
envergonhado e em estado de graça]
no retorno asfalto da vias
- ligação leste oeste
que corta a imensa são paulo - passei
por rios aterrados e quase
mortos [foi o cheiro
podre que me
lembrou],
nada ali
era verde
não havia indígenas
- exceto um povo pobre,
miserável,
mulheres e homens
carregando suas vidas
em casas de carroças,
num muro militante:
"No Brasil, todo mundo é índio
exceto quem não é"
sentença,
ainda sem sentido,
mas que espasmou em mim,
até o desembarque final.
entrei embaixo da ducha
já sem camisa de linho branca que, joguei no chão da sala,
como se tudo que fosse sujo
e que fosse largado
no meio do caminho tivesse
o poder de se purificar,
[sangue seco amarela
ou fica barrento,
e alvejante algum garante
a branquitude romantica
que tanto cantamos
para expurgar nossa
culpa],
molhado e ensanguentado -
de um sangue que não era meu
mas que bebi e ainda corre
dentro:
da terra do encanamento dos tubos dos rios aterrados
em mim -,
percebi meu corpo pesado
e, quando olho:
meu peito
meu pelos
meu púbis,
percebo que sustentava o jeans
encharcado, como quem
guarda o pecado,
[entre despir- me e limpar-me
da culpa cristã]
procuro apoio para o pânico, e
um mínima sustentação
da minha herança,
eu sei que posso cair
[e eu devo aceitar a queda?
mas e tudo que fizemos?
e tudo que evoluímos?
e tudo que conquistamos?
e tudo que descobrimos?
e tudo que construímos?
e tudo que refinamos?
e tudo que esclarecemos?
e tudo que progredimos?]
eu não aceitaria jogar tudo
no ralo,
toda essa sujeira,
não fosse
tocar o bolso
e, de dentro do jeans,
tirar coisas que,
juro, levarei anos para entender
como foram para ali,
em minha posse:
anzóis,
moedas,
contas de vidros,
e triturados cortantes
de espelho
que, eu enfiei na boca,
mastiguei até virar
farelo
de paçoca,
antes de dormir.
.
sonhei que eu era um monstro
insone,
e que meus pares,
outros monstros como eu,
me alertavam:
- tem nada não, companheiro, essa culpa
não é sua,
[se for,
resolva
em terapia],
e garanta a paz
e o sono dos justos,
pois amanhã é dia de branco.
mas o jaguar sorriu pra mim.
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para Claudia Andujar
diante da magnitude de Urihi-a
- terra-floresta Yanomami -
[como um criança
paralisada diante de um jaguar
sem ação ou medo
diante de estupenda beleza] daquela
floresta magenta
gigantemente impressa
- 12,1 x 8,1m -
e guardada em papel
fotográfico
- impressão sobre filme de base de polipropileno ABL 145 -
e frente a todo poder,
toda fragilidade
daquela imagem:
eu chorei, e chorei pelo nariz,
sibilante em bronquite,
um choro agudo - em vão
livre -
que não era
medo, mas espanto,
uma floresta de afetos
bombeou
meu sangue e,
para não me entregar
a um infarto,
meu pulmão
agradeceu todo aquele ar
[e pouco me importou
o público ao meu lado
e seus olhares,
eu somente busquei o belo],
e, diante da grandeza
da ideia de: árvores, pássaros, curumins, aldeia, formigas, bichos,
eu percorri artérias
nas matas daquela floresta
de sangue vivo: morto,
olhando o reflexo das árvores
vermelhas
no vidro temperado,
do chão de vidros,
e na água da piscina
poliesportiva, abaixo de mim,
eu naveguei distante,
por rios capilares, amazonicos,
[logo eu, que ainda nem conhecia o Ó Serdespanto],
meu coração,
sangrou diante do átrio
do prédio de concreto e vidro
e da representação da natureza
[aorta]
como obra de arte,
[ali, em meio a multidão
majoritariamente branca
eu, descendente de
indo-europeus,
envergonhado e em estado de graça]
no retorno asfalto da vias
- ligação leste oeste
que corta a imensa são paulo - passei
por rios aterrados e quase
mortos [foi o cheiro
podre que me
lembrou],
nada ali
era verde
não havia indígenas
- exceto um povo pobre,
miserável,
mulheres e homens
carregando suas vidas
em casas de carroças,
num muro militante:
"No Brasil, todo mundo é índio
exceto quem não é"
sentença,
ainda sem sentido,
mas que espasmou em mim,
até o desembarque final.
entrei embaixo da ducha
já sem camisa de linho branca que, joguei no chão da sala,
como se tudo que fosse sujo
e que fosse largado
no meio do caminho tivesse
o poder de se purificar,
[sangue seco amarela
ou fica barrento,
e alvejante algum garante
a branquitude romantica
que tanto cantamos
para expurgar nossa
culpa],
molhado e ensanguentado -
de um sangue que não era meu
mas que bebi e ainda corre
dentro:
da terra do encanamento dos tubos dos rios aterrados
em mim -,
percebi meu corpo pesado
e, quando olho:
meu peito
meu pelos
meu púbis,
percebo que sustentava o jeans
encharcado, como quem
guarda o pecado,
[entre despir- me e limpar-me
da culpa cristã]
procuro apoio para o pânico, e
um mínima sustentação
da minha herança,
eu sei que posso cair
[e eu devo aceitar a queda?
mas e tudo que fizemos?
e tudo que evoluímos?
e tudo que conquistamos?
e tudo que descobrimos?
e tudo que construímos?
e tudo que refinamos?
e tudo que esclarecemos?
e tudo que progredimos?]
eu não aceitaria jogar tudo
no ralo,
toda essa sujeira,
não fosse
tocar o bolso
e, de dentro do jeans,
tirar coisas que,
juro, levarei anos para entender
como foram para ali,
em minha posse:
anzóis,
moedas,
contas de vidros,
e triturados cortantes
de espelho
que, eu enfiei na boca,
mastiguei até virar
farelo
de paçoca,
antes de dormir.
.
sonhei que eu era um monstro
insone,
e que meus pares,
outros monstros como eu,
me alertavam:
- tem nada não, companheiro, essa culpa
não é sua,
[se for,
resolva
em terapia],
e garanta a paz
e o sono dos justos,
pois amanhã é dia de branco.
mas o jaguar sorriu pra mim.
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O urucum (Bixa orellana), é o fruto do urucuzeiro uma pequena árvore da América tropical. Seu nome tem origem na linguagem Tupi-Guarani transliterado “uru-ku” e significa “vermelho”. Seus frutos são cápsulas em forma de coração, com espinhos maleáveis, que se abrem e revelam pequenas sementes alinhadas, que podem virar tinta, pó, óleo, remédio e condimento.
É utilizado por indígenas para pintar o corpo em diferentes rituais mas também para hidratar,
proteger a pele do sol e de picadas de inseto.
O vermelho de sua tinta é também o sangue que escorre nas mãos da branquitude, frente ao genocídio e destruição dos povos da floresta.
É utilizado por indígenas para pintar o corpo em diferentes rituais mas também para hidratar,
proteger a pele do sol e de picadas de inseto.
O vermelho de sua tinta é também o sangue que escorre nas mãos da branquitude, frente ao genocídio e destruição dos povos da floresta.
Criação, pesquisa e performance
Marina Guzzo
Finalização de edição
Patrícia Araujo
Efeitos sonoros
Mateus Guzzo
Urucum
Sítio Angelina Iperó
Apoio de produção artística
Marli Pedroso
Marina Guzzo
Finalização de edição
Patrícia Araujo
Efeitos sonoros
Mateus Guzzo
Urucum
Sítio Angelina Iperó
Apoio de produção artística
Marli Pedroso