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︎︎︎

Palimpsesto
> Mariana Paraizo

11’58''
arquivo digital, 2021 




"Com as mãos mergulhadas na tinta branca, tento delinear o papel. Esfacelada pela umidade, cremosa e espessa, a folha ainda é a superfície que busco para escrever. Mergulhada num recipiente de tinta grossa e branca, a folha está em algum lugar, eu sei. A assinatura de minha vó, Jubélia Clemente Gonçalves, me vem aos dedos. Para o gesto da reescritura desta assinatura, tento enxergar menos com os olhos do que com o pulso. Escrever sua assinatura, sentir em algum lugar a textura do papel se rasgando. Prosseguir, reescrever, de novo e de novo. Reescrever seu nome, enquanto a tinta escorre de volta na mesma direção, em ondas. Não sei se esvazio sua assinatura ou qualquer superfície. Contudo, o relato de sua história na infância ou de quando era uma jovem adulta e mulher casada preenche minha memória."

O vídeo “Palimpsesto” trata, a partir da colagem de vídeos de arquivo, relato em áudio e registro visual de ação feita com tinta branca, da história de uma mulher e, de certa forma, da condição das mulheres e do trabalho diante do acordo matrimonial nas décadas anteriores e de o início da implementação do Estatuto da Mulher Casada. Tem como principal mote a reescritura de uma assinatura e a sobreposição de imagens que mostram a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, finalizada no final dos anos 50. O lugar da mulher é evocado como ponto de tensão entre as expectativas sociais da mulher prendada e dependente do marido e a realidade financeira que atravessa a personagem da narrativa.
As conquistas femininas continuam sendo não mais do que “conquistas” às quais as mulheres precisam se aferrar ou das quais devem se orgulhar.
— Virginia Woolf, "Um teto todo seu"

Cada imagem do passado que não é reconhecida pelo presente como uma de suas próprias referências ameaça desaparecer irremediavelmente.
— Walter Benjamin, "Sobre o conceito de história"