“E o povo na rua cantando
É feito uma reza, um ritual
É a procissão do samba, abençoando
A festa do divino carnaval”
Portela na Avenida - Clara Nunes
“Moro num país tropical, abençoado por Deus
E bonito por natureza (mas que beleza)
Em fevereiro (em fevereiro)
Tem carnaval (tem carnaval)”
País Tropical - Ivete Sangalo
“Tanto riso
Ó, quanta alegria!
Mais de mil palhaços no salão”
Máscara negra - Zé Kéti
“Foi no balanço das ondas, eu vou
No mar eu jogo a saudade, amor
O tempo traz esperança e ansiedade
Vou navegando em busca da felicidade”
Peguei um Ita no Norte - G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
“É hoje o dia da alegria
É a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu”
É Hoje - Monobloco
“Oi joga água que é de cheiro
Confete e serpentina
Lança perfume no cangote da menina”
Festa Profana - G.R.E.S. União da Ilha
“Eu queria que essa fantasia fosse eterna
Quem sabe um dia a paz vence a guerra
E viver será só festejar”
Baianidade Nagô - Banda Mel
BICA +
INSTITUTO INCLUSARTIZ
APRESENTAM
INSTITUTO INCLUSARTIZ
APRESENTAM
14 OUTUBRO
ATÉ 31 DEZEMBRO
Curadoria de Lucas Albuquerque
Como a cultura drag vem repensando as práticas artísticas contemporâneas? O projeto ARRASTO lança ao público a mesma pergunta feita, no ano passado, às drag queens cariocas Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UNA. Partindo do desejo de extrapolar os limites já tão defasados da arte contemporânea e acreditando na potência de seus projetos, o convite às cinco artistas, que encontraram na performance em drag a canalização de suas investigações artísticas, surge da inconformidade em relação à escassez de estudos e propostas que busquem mapear a interpenetração entre a cultura drag e a arte moderna e contemporânea. Afinal, por onde começar essa linha? Seria leviano considerar como ponto de partida a provocação de gênero colocada por Duchamp na criação do alter ego feminino Rrose Sélavy e nas fotografias de contravenção e experimentação de gênero de Claude Cahun sem antes considerar as práticas teatrais e urbanas de personas contemporâneas a estes, como Madame Satã e muitas outras, ainda desconhecidos pela historiografia? Perguntas como estas rondaram nossos debates ao longo deste ano, tendo a inquietação como força propulsora para os projetos aqui apresentados.
Frente ao desafio de traçar uma teoria drag capaz de abarcar os entendimentos sobre essa performatividade e os seus processos envolvidos, ARRASTO apresenta aqui uma primeira formulação. A fim de comissionar trabalhos individuais com um grupo de drags atuantes no cenário carioca, cujos compreensões acercas da prática performática em torno da manipulação do gênero e da identidade são diferentes entre si, tivemos a oportunidade de, ao longo de um ano, debater textos, ensaios, trabalhos artísticos e entrevistas de outros artistas que lidam com a questão ou com o que se desenha em seu entorno. O pontapé inicial para abordar a questão nasce, portanto, de uma abordagem teórico-metodológica com fins práticos. O resultado disso poderá ser visto quinzenalmente neste site, onde cada uma das artistas é convidada a ocupar com obras inéditas.
Refletindo sobre o próprio termo “drag”, nasce o nome deste projeto. ARRASTO parte tanto de uma das teorias acerca do surgimento da denominação, que remete aos longos vestidos vitorianos usados por atores masculinos que atuavam como personagens femininas no teatro do século XIX, como também da falta de uma palavra em português que abarque o conteúdo semântico da palavra “drag”. Neste último caso, faz uso da literalidade da tradução para, a partir da confusão, estabelecer uma figura de linguagem com o ato de arrastar, cujo sentido denota uma mudança de posição de um objeto com certa carga de fricção. Fazendo do atrito a sua força de resistência, os encontros proporcionados pelas obras aqui apresentadas visam o movimento, a inconstância, o trânsito — tanto cultural e simbólico quanto físico —, mas não abrem mão da ferida causada pelo choque.
Ao longo de dez semanas, compartilharemos quinzenalmente ocupações de cada uma das artistas, em consonância com entrevistas individuais e mesas de debate. Findado o período expositivo da 1ª etapa do projeto, está prevista a exibição dos trabalhos gerados para esta exposição, por meio de projeções, em festas LGBTQIAP+ no estado do Rio de Janeiro. Essas, ao longo dos anos, apoiam o cenário drag cedendo seu espaço e fomentando performances, contribuindo de forma ativa para a produção do grupo. Buscamos, portanto, não apenas promover a entrada de artistas da cena noturna no campo das artes visuais, mas propor seu retorno aos espaços de festa e resistência LGBTQIA+ na cidade do Rio, profanando, assim, os dois espaços. Por fim, o projeto aqui apresentado pretende se prolongar ao longo do ano de 2023 em uma exposição coletiva, onde os conceitos mapeados funcionarão como guarda-chuvas conceituais para uma reflexão mais aprofundada sobre a relação entre uma teoria queer e os processos em voga na arte contemporânea brasileira.
Frente ao desafio de traçar uma teoria drag capaz de abarcar os entendimentos sobre essa performatividade e os seus processos envolvidos, ARRASTO apresenta aqui uma primeira formulação. A fim de comissionar trabalhos individuais com um grupo de drags atuantes no cenário carioca, cujos compreensões acercas da prática performática em torno da manipulação do gênero e da identidade são diferentes entre si, tivemos a oportunidade de, ao longo de um ano, debater textos, ensaios, trabalhos artísticos e entrevistas de outros artistas que lidam com a questão ou com o que se desenha em seu entorno. O pontapé inicial para abordar a questão nasce, portanto, de uma abordagem teórico-metodológica com fins práticos. O resultado disso poderá ser visto quinzenalmente neste site, onde cada uma das artistas é convidada a ocupar com obras inéditas.
Refletindo sobre o próprio termo “drag”, nasce o nome deste projeto. ARRASTO parte tanto de uma das teorias acerca do surgimento da denominação, que remete aos longos vestidos vitorianos usados por atores masculinos que atuavam como personagens femininas no teatro do século XIX, como também da falta de uma palavra em português que abarque o conteúdo semântico da palavra “drag”. Neste último caso, faz uso da literalidade da tradução para, a partir da confusão, estabelecer uma figura de linguagem com o ato de arrastar, cujo sentido denota uma mudança de posição de um objeto com certa carga de fricção. Fazendo do atrito a sua força de resistência, os encontros proporcionados pelas obras aqui apresentadas visam o movimento, a inconstância, o trânsito — tanto cultural e simbólico quanto físico —, mas não abrem mão da ferida causada pelo choque.
Ao longo de dez semanas, compartilharemos quinzenalmente ocupações de cada uma das artistas, em consonância com entrevistas individuais e mesas de debate. Findado o período expositivo da 1ª etapa do projeto, está prevista a exibição dos trabalhos gerados para esta exposição, por meio de projeções, em festas LGBTQIAP+ no estado do Rio de Janeiro. Essas, ao longo dos anos, apoiam o cenário drag cedendo seu espaço e fomentando performances, contribuindo de forma ativa para a produção do grupo. Buscamos, portanto, não apenas promover a entrada de artistas da cena noturna no campo das artes visuais, mas propor seu retorno aos espaços de festa e resistência LGBTQIA+ na cidade do Rio, profanando, assim, os dois espaços. Por fim, o projeto aqui apresentado pretende se prolongar ao longo do ano de 2023 em uma exposição coletiva, onde os conceitos mapeados funcionarão como guarda-chuvas conceituais para uma reflexão mais aprofundada sobre a relação entre uma teoria queer e os processos em voga na arte contemporânea brasileira.
Lucas Albuquerque
Curador Independente