ATO I
Casulo

ACT I – COCOON


Surgindo de algo inexplicável, um casulo é demonstrado. Envolvido em uma capa protetora grotesca e sóbria. Tendo dentro uma criatura no período de pupa a ser exposta.

Coming out of something inexplicable, a cocoon is demonstraded. Wrapped in a protective cover grotesque and sober. Having inside a creature in the period of pupa to be exposed.










ATO II
Mandíbula

ACT II – JAW




Em um formato grande e bizarro, uma mandíbula óssea é exibida aberta e exposta com uma grande língua para fora com dentes tortos e deformados.

In a large and bizarre shape, a bony jaw is displayed and exposed with a large tongue sticking out with crooked and misshapen teeth.








ATO III
Ventre

ACT III – WOMB






Tomando vida em um ventre, aparece um ser exposto tentando se revelar. Mostrando seu rosto sem feições ou formato.

Taking life in a womb, appears an exposed being trying to reveal itself. Showing the featureless face or format.










ATO IV
Estrutura Óssea

ACT IV – BONE STRUCTURE




Após a passagem da sua metamorfose, revelasse a estrutura óssea da criatura. Construída por diversos meios de tecidos (denso, ósseo, adiposo, cartilaginoso e sanguíneo). Com uma apresentação cruel a criatura é revelada.

After the passage of its metamorphosis, reveal the creature's bone structure. Built by several tissue media (dense, bony, adipose, cartilaginous and blood). With a cruel presentation the creature is revealed.







E, assim, o ser é exposto à humanidade a fim de minar todas as estruturas e relações de poder que constroem a sociedade humana.

And so, humanity is exposed in order to undermine all the structures and power relations that build human society.


BICA +
INSTITUTO INCLUSARTIZ
APRESENTAM





14 OUTUBRO
ATÉ 31 DEZEMBRO

Curadoria de Lucas Albuquerque
Como a cultura drag vem repensando as práticas artísticas contemporâneas? O projeto ARRASTO lança ao público a mesma pergunta feita, no ano passado, às drag queens cariocas Akira Hell, Gui Mauad, Iryna Leblon, Organzza e UNA. Partindo do desejo de extrapolar os limites já tão defasados da arte contemporânea e acreditando na potência de seus projetos, o convite às cinco artistas, que encontraram na performance em drag a canalização de suas investigações artísticas, surge da inconformidade em relação à escassez de estudos e propostas que busquem mapear a interpenetração entre a cultura drag e a arte moderna e contemporânea. Afinal, por onde começar essa linha? Seria leviano considerar como ponto de partida a provocação de gênero colocada por Duchamp na criação do alter ego feminino Rrose Sélavy e nas fotografias de contravenção e experimentação de gênero de Claude Cahun sem antes considerar as práticas teatrais e urbanas de personas contemporâneas a estes, como Madame Satã e muitas outras, ainda desconhecidos pela historiografia? Perguntas como estas rondaram nossos debates ao longo deste ano, tendo a inquietação como força propulsora para os projetos aqui apresentados.

Frente ao desafio de traçar uma teoria drag capaz de abarcar os entendimentos sobre essa performatividade e os seus processos envolvidos, ARRASTO apresenta aqui uma primeira formulação. A fim de comissionar trabalhos individuais com um grupo de drags atuantes no cenário carioca, cujos compreensões acercas da prática performática em torno da manipulação do gênero e da identidade são diferentes entre si, tivemos a oportunidade de, ao longo de um ano, debater textos, ensaios, trabalhos artísticos e entrevistas de outros artistas que lidam com a questão ou com o que se desenha em seu entorno. O pontapé inicial para abordar a questão nasce, portanto, de uma abordagem teórico-metodológica com fins práticos. O resultado disso poderá ser visto quinzenalmente neste site, onde cada uma das artistas é convidada a ocupar com obras inéditas.

Refletindo sobre o próprio termo “drag”, nasce o nome deste projeto. ARRASTO parte tanto de uma das teorias acerca do surgimento da denominação, que remete aos longos vestidos vitorianos usados por atores masculinos que atuavam como personagens femininas no teatro do século XIX, como também da falta de uma palavra em português que abarque o conteúdo semântico da palavra “drag”. Neste último caso, faz uso da literalidade da tradução para, a partir da confusão, estabelecer uma figura de linguagem com o ato de arrastar, cujo sentido denota uma mudança de posição de um objeto com certa carga de fricção. Fazendo do atrito a sua força de resistência, os encontros proporcionados pelas obras aqui apresentadas visam o movimento, a inconstância, o trânsito — tanto cultural e simbólico quanto físico —, mas não abrem mão da ferida causada pelo choque.

Ao longo de dez semanas, compartilharemos quinzenalmente ocupações de cada uma das artistas, em consonância com entrevistas individuais e mesas de debate. Findado o período expositivo da 1ª etapa do projeto, está prevista a exibição dos trabalhos gerados para esta exposição, por meio de projeções, em festas LGBTQIAP+ no estado do Rio de Janeiro. Essas, ao longo dos anos, apoiam o cenário drag cedendo seu espaço e fomentando performances, contribuindo de forma ativa para a produção do grupo. Buscamos, portanto, não apenas promover a entrada de artistas da cena noturna no campo das artes visuais, mas propor seu retorno aos espaços de festa e resistência LGBTQIA+ na cidade do Rio, profanando, assim, os dois espaços. Por fim, o projeto aqui apresentado pretende se prolongar ao longo do ano de 2023 em uma exposição coletiva, onde os conceitos mapeados funcionarão como guarda-chuvas conceituais para uma reflexão mais aprofundada sobre a relação entre uma teoria queer e os processos em voga na arte contemporânea brasileira.


Lucas Albuquerque
Curador Independente